Atualmente, compramos entre 1 e 2 toneladas de cacau por origem. Sabemos, no entanto, que a floresta produz muito mais do que isso. A comunidade que vive às margens do rio Purus, por exemplo, já chegou a 40 toneladas de cacau seco e fermentado em uma única safra. Com a ajuda desses ribeirinhos, é possível extrair da floresta, de maneira sustentável, uma grande quantidade de cacau selvagem. Muito desta cadeia produtiva depende unicamente da nossa demanda, uma vez que a maioria das origens de cacau com que trabalhamos ainda vende o fruto seco e fermentado só para nós, infelizmente.

Durante o período de safra, são incontáveis as vezes em que o barco chega repleto de cacau! Em cada origem há diversas dinâmicas no que tange a coleta dos frutos: às vezes, a pessoa que fermenta é a responsável por coletar e buscá-los com outras famílias que vivem na beira do rio, noutras vezes ela apenas recebe na sua casa os frutos que lhe levam para fermentar. Há momentos em que a cooperativa tem o papel de passar de casa em casa e recolher os frutos colhidos ao longo do dia. O importante nesta etapa inicial é que os frutos passem pelo processo de quebra e seleção de amêndoas o mais rápido possível, depois de serem extraídos do cacaueiro.

Geralmente, há uma boa quantidade de pessoas envolvidas na coleta dos frutos. E quanto mais, melhor. É preciso adentrar a mata em busca do cacau. Depois que são coletados, esses frutos são levados para perto do centro de fermentação que, a depender da comunidade, pode se situar longe do local onde foram colhidos. Antes de serem levados ao centro de fermentação, ainda na beirada do rio, é feita a quebra dos frutos e a seleção das amêndoas para fermentação. As amêndoas, após selecionadas, são colocadas em grandes caixas de fermentação, onde ficam por cinco ou seis dias.

São as próprias pessoas que carregam os frutos pela floresta, daí a importância do envolvimento do maior número possível de indivíduos. Para que esses frutos cheguem aos centros de fermentação, são usados barcos. Depois da fermentação e secagem das amêndoas, elas são levadas à cidade mais próxima também de barco para serem de lá transportadas em um caminhão, numa jornada de aproximadamente dez dias, até desembarcarem em nossa fábrica, em São Paulo.

Acreditamos que a Floresta Amazônica, com suas árvores ancestrais e genéticas preservadas, pode ser uma fonte de inúmeras riquezas, muitas ainda inexploradas, desde que tenhamos consciência da importância de sua preservação. Sua flora é preciosa e seus frutos estão disponíveis para nós, humanos. A coleta de seus frutos de forma controlada e respeitosa à natureza pode criar condições de vida dignas para as populações ribeirinhas, carentes de tantos itens básicos. Se essas famílias conseguem sobreviver da extração controlada dos frutos, a coexistência entre nós, humanos, e a floresta torna-se possível e frutífera, sem a necessidade de cortarmos suas árvores e sempre preservando suas riquezas.