O BLOG

Histórias da Floresta
Grão de cacau.

Diferentes Rios, Diferentes Sabores

RIO TOCANTINS — 3 toneladas

Cacau do Rio Tocantins (Pará): Nossos parceiros Mario e Marcio são os responsáveis pela organização da cadeia do cacau selvagem que cresce às margens do rio Tocantins na altura da cidade de Mocajuba e nas diversas ilhas em seu curso. São vinte famílias que participam dessa cadeia. Existe uma longeva tradição na comercialização do cacau na região. Desde o século XVII, há relatos de produção de cacau ali. Essa produção está focada no chamado cacau bulk, ou cacau commodity, de baixo valor agregado. Ele não é fermentado e é normalmente vendido para as grandes indústrias que não estão preocupadas com a qualidade e as nuances de sabores e aromas do cacau, mas com a quantidade e a garantia de fornecimento de grandes volumes. Nossa presença em Mocajuba se iniciou em 2019 quando fomos até lá treinar nossos parceiros Mario e Marcio e uma família ribeirinha para fazer a fermentação do cacau.

A fermentação agrega valor ao cacau, que passa dos 8 a 10 reais pagos por quilo pelas grandes empresas (cacau bulk) para os 30, até 34 reais pagos por quilo por nós. Em 2021, compramos quase três toneladas do cacau de Mocajuba. Essa é a única origem onde competimos diretamente com as grandes indústrias de chocolate do Brasil e do mundo pelo fornecimento do cacau.

RIO ACARÁ – 1,8 toneladas

Cacau do Rio Acará (Pará): Nosso único fornecedor é a Iolanda e o Francisco (Bico), seu esposo. Eles são ribeirinhos que vivem às margens do rio Arauaia, um braço do Acará. Iolanda e Bico compram cacau de oito a dez famílias ribeirinhas ao longo dos rios Arauaia, Acará e Guamá. Começamos a comprar cacau fermentado da Iolanda e do Bico em 2015, quando eles fermentaram 200 quilos para nós. Em 2021, produziram 1,8 toneladas. Isso é um feito incrível, dadas as condições em que trabalham. Temos muitos desafios para tirar esses volumes de lá e levá-los para nossa fábrica. Eles não possuem empresa, e a transportadora não chega até onde moram. Além disso, eles não têm como emitir em casa as notas fiscais que a transportadora exige e, para isso, emitem notas avulsas na unidade da Secretaria da Fazenda em Barcarena, a cidade mais próxima da casa deles. É um esforço considerável fazer esse cacau sair de lá. Por vezes, precisamos contar com a ajuda de nossos parceiros no rio Tocantins para essa logística.

RIO CASSIPORÉ – 1 tonelada

Cacau do Rio Cassiporé (Amapá): Foi a segunda origem de cacau selvagem com a qual tivemos contato após o encontro com o exemplar do rio Purus. Porém, apenas quatro anos depois é que conseguimos recebê-lo em nossa fábrica. Foi um trabalho grande de envolvimento com as famílias. Os primeiros contatos não foram suficientes para convencer os moradores do povoado Vila Velha do Cassiporé a se engajarem na coleta do cacau selvagem que ocorre às margens do rio Cassiporé. Foi preciso que João Dorismar, ex-morador da Vila Velha do Cassiporé, voltasse lá e iniciasse os movimentos pioneiros para desenvolver a cadeia do cacau naquela localidade. Dorismar nos enviou amostras do cacau que ele e os demais fermentaram, mas, infelizmente, não passou no teste de qualidade. Falamos com ele sobre os problemas da fermentação e, mais adiante, ele nos convidou para irmos até lá e ministrarmos um treinamento em fermentação do cacau de acordo com nossos protocolos e diretrizes. Aceitamos o convite e assim o fizemos. Treinamos as pessoas que ajudam o Dorismar com a fermentação que, desde então, ficou excelente. Em 2021, compramos deles 1 tonelada. No Cassiporé, treze famílias estão envolvidas na cadeia do cacau selvagem.

RIO PURUS – 1 tonelada

Cacau do Rio Purus (Amazonas): A Cooperar, uma cooperativa com 300 integrantes, é a responsável pela produção do cacau selvagem às margens do Purus. Iniciaram a produção em 2006 e venderam, nesse ano, 8 toneladas. Em 2011, foram 41 toneladas, o máximo que já conseguiram fermentar. Porém, a qualidade diminuiu bastante, uma vez que tiveram que buscar cacau muito além do que tinham condições. Em 2021, fizeram 1 tonelada. Mais recentemente a produção aumentou e, nas últimas safras, produziram entre 10 e 12 toneladas. Nossa primeira compra com eles foi de 60 quilos em setembro de 2014 e, no ano passado, chegou a 1 tonelada. A Cooperar nos manda o cacau via caminhão de Boca do Acre até nossa fábrica em São Paulo. O nível de formalização é grande nessa nossa relação, pois a Cooperar possui CNPJ.

RIO JURUÁ – 200 quilos

Cacau do Rio Juruá (Acre): Sem dúvida alguma, é um cacau muito especial, de classe mundial, no sentido de dar ao chocolate notas e aromas normalmente encontrados nos cacaus finos do Equador, da Venezuela e do Peru. Não há nada que se compare ao cacau do rio Juruá no Brasil. Esse cacau selvagem comprovou fazer sentido nossa insistência em ir para o Oeste do Brasil e chegar o mais próximo possível de onde os geneticistas concordam ser o berço de origem dessa planta: a Floresta Amazônica entre o Peru, o Equador, a Colômbia e o Brasil. Porém, é a produção mais sujeita às chuvas que alagam com frequência o Vale do Rio Juruá. A primeira produção do cacau selvagem de tal origem deu-se em 2018 sob a responsabilidade dos irmãos Osmir e Aires Andriola, que receberam apoio logístico e financeiro para o treinamento em fermentação lá no rio Purus no ano anterior. Esse treinamento foi dado por Daniel O´Doherty, um dos maiores especialistas em fermentação de cacau. Daniel veio do Havaí até o Purus. Tanto os irmãos Andriola quanto Daniel tiveram o apoio da SOS Amazônia dentro do escopo do Projeto Valores da Amazônia. Graças aos recursos da SOS Amazônia, à dedicação dos irmãos Andriola e ao Daniel, a primeira produção no Juruá foi de 1 tonelada em 2018. E compramos todo esse volume. Ao término do Projeto Valores da Amazônia e devido a duas grandes enchentes, a produção de cacau ali, no ano seguinte, foi de apenas 200 quilos. Ela chegou a envolver dez famílias, mas esse número caiu para menos de 5. Em 2022, decidimos aumentar o valor pago pelos frutos a fim de gerar mais engajamento das famílias. O novo preço os deixou muitos animados e motivados. Esperamos que a safra de 2022 seja até maior que aquela de 2018!

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